Pela primeira vez,
muitos de nós, estudantes de graduação, nos levantávamos das cadeiras e
invertíamos os papéis com nossos mestres. Era nossa vez de mostrar o que
sabíamos – ou o que havíamos fervorosamente estudado para nos sentirmos capazes
de transmitir esse conhecimento.
O desafio era
grande: assumir aulas, como professores, numa turma de um cursinho preparatório
para o vestibular. A recompensa, naquele momento, ainda era uma incógnita.
Mesmo assim, sentíamos que aquela seria uma aventura interessante.
E assim, foi.
Quando nos
deparamos com uma sala lotada de alunos que estavam lá por vontade própria
(assim como nós), não houve como não tremer nas bases. Tínhamos nos dado conta
do tamanho de nossa responsabilidade: qualquer palavra dita errada naquele
momento influenciaria negativamente dezenas de cabeças que confiavam em nós
para obter o conhecimento necessário para ingressarem em uma universidade.
Mas a verdade mesmo
é que qualquer palavra dita errada naquele momento influenciaria negativamente
uma infinidade de sonhos.
E com o sonho
alheio não se brinca: nenhum ser humano é capaz de mensurar o tamanho do sonho
de outro – e justamente por isso, nenhum ser humano tem direito de menosprezá-lo.
E aqueles sonhos diante de nós confiavam que não faríamos isso.
As “aulas” se
iniciaram e nos encontramos perplexos com a constatação de que não só
aquilo que conhecíamos sobre as disciplinas era suficiente para transmitir de
forma eficiente àquelas pessoas nosso conhecimento; nosso espanto maior,
no entanto, era de que nossa situação acadêmica não havia mudado nem um pouco.
Estar à frente da
sala de aula não nos tornou professores da noite pro dia. Estar à frente da
sala de aula nos tornou mais alunos do que nunca. Nos fez perceber que, no fim
das contas, a coisa que menos era ensinada por lá era a parte técnica que os
prepararia para o exame vestibular – e quem mais aprendia, na verdade, eramos
nós.
Aprendemos que um
ambiente preparado para ser de ensino, quando há cumplicidade e confiança, se
torna um ambiente de amizade. E acima de tudo, aprendemos que títulos de
professores jamais significarão nada – em absolutamente nenhum aspecto – se nos
lembrarmos que aquilo que ocorria, antes de ser uma aula, possuía uma força que
extrapola este rótulo seco. Afinal de contas, quando nos deparamos com a
definição da palavra “aula”, entendemos que é a transmissão unilateral de um
conteúdo de alguém mais preparado que seu aluno. E eu me recuso a definir
aqueles momentos como este tipo de aula. O que havia ali era um aprendizado
mútuo (e até desbalanceado), em que os ditos professores estão lá aprendendo
coisas mais importantes que seus ditos alunos – tendo lições sobre a vida,
muito mais importante que um vestibular.
Assim pudemos
afimar com segurança àqueles sonhos que estavam diante de nós: “podem confiar
em nós. Aquilo que viemos fazer será tranquilamente passado a vocês como o
planejado, e com a dedicação de todos, vocês serão capazes de atingir seus
objetivos.”
Enquanto isso em
nosso íntimo, pedíamos: “por favor, não deixem de nos ensinar que o mais
importante, de fato, não é o que estamos falando aqui na frente para vocês.”
Muito obrigado por
me ensinarem que jamais quero ser um professor, e sim apenas mais um aluno de
meus alunos.